segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Fora da toca
Prólogo


Um deserto sem fim. Seco. Árido. Apenas terra granulada e rochas se avistam. Muito raramente nota-se um cacto ou um fio de água. A terra-mãe impõe-se num relevo agreste, áspero e cru, pontuando-se muitas vezes em desfiladeiros e penhascos.
Num cenário assim a vida caracteriza-se pela sobrevivência. Tudo o que seja passível de digestão é consumido, sendo muitas vezes necessário pôr o dente em coisas que, noutras situações, nos levariam a desviar o olhar.
Duas personagens circulam neste ambiente. Ou será apenas uma? Passemos à sua caracterização. Uma é escanzelada, com mais tendões do que músculos a aparecerem por debaixo da pele, num corpo marcado pela fome. Olhos encovados em rosto afilado onde o nariz se salienta. É solitária, como se tivesse sido abandonada, posta à margem pelos outros ou se tivesse desviado no seu percurso para zonas mais “desfavorecidas”. A outra, como uma miragem, é o alimento há muito desejado, aparece, aguça o apetite e afasta-se rapidamente para um ponto inatingível. É ágil e tem como principal divertimento despertar a atenção da primeira levando-a a persegui-la infindavelmente. Por um lado é a razão da sua sobrevivência, por outro mantém-na na ilusão de que algum dia a conseguirá obter/alcançar. E é com este jogo que a vida se manifesta por estas regiões.
No nosso mundo as coisas não são muito diferentes: a luta diária pelo direito a existir é a característica dominante das nossas acções. As situações extremas vão-se generalizando cada vez mais, as ameaças à existência e a devastação da natureza são uma constante.
Exige-se responsabilização pessoal. O respeito pelo outro é essencial (mesmo egoisticamente: dele depende o nosso equilíbrio emocional).



Ismael Bento da Cruz

3 comentários:

Anónimo disse...

Você escreveu pouco mas escreveu bonito!

Anónimo disse...

já não se fazem pessoas como você. se o texto que você escreveu é sua maneira de pensar tenho de concluir que você é um verdadeiro cavalheiro.

Anónimo disse...

realmente
a resposta para o problema
só mesmo a laqueação das trompas