segunda-feira, 31 de março de 2008

ASPO - PORTUGAL - UMA LIÇÃO LÚCIDA SOBRE O APOCALIPSE, NA CABANA DOS PARODIANTES



O DECLÍNIO DO PETRÓLEO...
Como evitar o apocalipse ?! [económico, político e social]


No passado dia 27 de Março de 2008 a tertúlia " Conversas da Cabana ", abordou a problemática do esgotamento dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), as consequências previsíveis para o nosso modo de vida e quais as alternativas credíveis.
Foram convidados como prelectores três membros da ASPO Portugal (Associação para o Estudo do Pico do Petróleo e do Gás), a saber:
Pedro Domingues de Almeida - Eng. Electrotécnico, doutorado em Eng. Informática e Investigador na área da energia há 20 anos, é professor universitário e consultor no domínio da previsão dos preços de petróleo.
Luís Moreira de Sousa - Licenciado em Engenharia Informática e de Computadores e Mestre em Sistemas de Informação Geográfica. Assistente e bolseiro de investigação científica. Investiga o esgotamento dos hidrocarbonetos sob a perspectiva do crescimento populacional.
Luís Queirós - Licenciado em Ciências Físico-Químicas. Foi professor assistente de Matemática. Fundador e Director Geral da Marktest, preside actualmente ao grupo que engloba a Marktest, com negócios em 22 países.
É hoje bastante claro que qualquer declínio na produção mundial de petróleo irá ter sérias consequências económicas e sociais. O crescimento económico global está baseado em energia barata e o petróleo contribui significativamente para o total do bolo energético global.


À medida que o aprovisionamento energético declina, o mesmo também acontecerá com o crescimento. A maior parte dos peritos já admitiu que o pico de petróleo convencional já está ultrapassado, e que só falta o petróleo mais caro e mais difícil de produzir (de águas profundas, polar, pesado ou sulfuroso, areias betuminosas), ultrapassar o pico para toda a produção de petróleo total mundial (convencional e não convencional) declinar.
Inicialmente um pico na produção petrolífera manifestar-se-á através de uma escassez estrutural de petróleo por todo o mundo. Os efeitos de tal escassez dependem da taxa de declínio e do desenvolvimento e adopção de alternativas. Se as alternativas não forem impulsionadas, então muitos produtos e serviços, produzidos com petróleo, tornar-se-ão igualmente escassos, levando a um retrocesso no nível de vida em todos os países.
Os cenários previstos vão desde os "apocalípticos" até à "crença que a economia de mercado e novas tecnologias vão resolver o problema". As indicações de volatilidade económica já se manifestaram na alta das taxas de inflação, que se devem sobretudo aos elevados preços de energia.
Ajuste do consumo à produção:
Hoje, o consumo mundial de petróleo já está limitado pela capacidade de extracção.
O ajuste faz-se através da subida do preço (que “comprime” a procura).
Ao longo dos últimos 4 anos temos estado a assistir à primeira subida de preços motivada por este fenómeno. Estas primeiras subidas de preços ainda são muito limitadas, mas já reduziram significativamente o consumo em muitas regiões.
Mitigação da escassez energética – recorrendo ainda a combustíveis fósseis:
- Betumes, Tar sands, Oil shale.
- Gás + Gas to liquids (Problema do Pico do Gás)
- Carvão + Coal to liquids (É pouco competitivo. Agrava as emissões de CO2.
Os stocks de carvão estão muito longe de serem infinitos.)
Todas estas hipóteses tem problemas de escala e de “ramp up”.
Mitigação da escassez energética – recorrendo a outras energias (não fósseis):
- Bio-combustíveis (promessa segura, mas tem limites importantes)
- Electricidade:
- Hídrica (é a forma ideal de a produzir: ciclo da água, sol)
- Eólica (é já uma realidade presente, tem problemas, mas…)
- Outras renováveis (a maioria exige progressos técnicos futuros)
- Nuclear (futura falta de urânio, exige progressos técnicos futuros)
- Fusão (mito tecnológico, e problema nos “combustíveis”…)
- Hidrogénio (outro mito, e não seria fonte, mas apenas veículo…)
Mitigação da escassez energética - Principais soluções:
- Economia energética (diminuição de consumos; maior eficácia)
- Alternativas fósseis (só transitoriamente)
- Bio-combustíveis
- Electricidade (veículos eléctricos)
- Redução populacional…
Conclusões:
Subida de preços da energia (estamos ainda no inicio…)
Modificações importantes das nossas sociedades:
- Menos viagens aéreas, maior utilização de TGVs e de telecomunicações;
- Mais mass transit, automóveis eléctricos e mais pequenos;
- Maior eficiência energética;
- Etc..
Uma depressão económica mundial será quase inevitável…;
Grandes dificuldades para aguentar a actual população mundial;
Mas o futuro (destino) ainda não está traçado, ele será função daquilo que fizermos!


A tertúlia começou ás 22 horas com cerca de 40 pessoas e acabou á uma da manhã com 25 resistentes. As questões foram oportunas e inteligentes, na devida proporção da qualidade dos 3 oradores.


Helder Manuel Esménio