terça-feira, 21 de abril de 2009

TOC ! TOC ! TOC ! TOC ! QUE COMEÇE A FUNÇÃO CARLOS MIGUEL !!!!!!!!!




1…1.2.3.4.5.6.7….1…2…3 ! Foi assim, nesta ordem e nesta cadência com as pancadinhas de Moliére, que se iniciou mais umas Conversas da Cabana, por sinal, a 33ª tertúlia.
Lembram-se de ouvir nas peças de teatro de antigamente, as batidas secas do pau sobre o estrado de madeira do palco (os grupos amadores de teatro por todo o mundo ainda utilizam para dar início á função), ecoando por toda a sala, estremecendo o palco, as cadeiras e os nossos corações ?
Carlos Miguel, o ilustre convidado desta tertúlia, fez questão que a noite começasse assim, ou não fosse ele um actor com 50 anos de palco.
Depois de muito bem apresentado pelo moderador de serviço, o jornalista José Peixe, o Fininho deu-nos uma curta sabatina sobre as origens do teatro, desde a Grécia antiga, até aos dias de hoje. Tudo começou nas festas anuais em honra ao Deus Baco (Dioniso), onde se representaram as primeiras tragédias e comédias. Téspis foi considerado o primeiro actor da história, pois, segundo o orador terá subido a uma espécie de altar aquando um cortejo dionísico em honra da safra desse ano, em Atenas, e terá respondido ao coro. Coisa inédita, num evento onde o coro era soberano. Segundo Carlos Miguel, o coro era o intermediário entre os actores e a plateia e através de danças e canções, relatavam as histórias dos personagens.
Naturalmente, Carlos Miguel iria falar no glorioso teatro de Revista á portuguesa, onde ele espalhou o seu talento durante toda a vida. Segundo ele, a Revista á portuguesa é um sucedâneo do género Vaudeville francês e terá herdado o seu tom burlesco e picante. A Revista nasceu no século dezanove, no Teatro Gymnasio, construído em 1846 no Chiado, Lisboa. Deve o seu nome, ao facto de, anualmente, haver um espectáculo que pretendia fazer uma revisão do ano, relatando em jeito de comédia as situações mais sórdidas ocorridas em Lisboa.
Recordou com saudade a época dourada da Revista no Parque Mayer, em plena ditadura salazarista, onde a crítica social e política passava por entre as anedotas e as gargalhadas do público. Os ensaios e as pré-estreias que eram feitas exclusivamente para os sensores da Pide. Os cortes e a violência psicológica exercidas pelo poder no trabalho diário dos encenadores e actores. As técnicas usadas pelos argumentistas afim de fintarem a escassa cultura dos agentes do Estado Novo. Os caprichos, as misérias e a glória das grandes figuras do teatro em Portugal.
Alguém perguntou a Carlos Miguel o que ele tinha pensado, no momento em que o médico o informou que ele iria perder a voz. Respondeu prontamente – o suicídio!
Não era para menos. A ferramenta mais preciosa de um actor, perdida por causa de dois tumores nas cordas vocais. O seu mundo ruiu naquele momento e nos meses seguintes.
Refugiou-se, longe da capital, no concelho de Salvaterra de Magos, mais propriamente no Granho. Foi submetido a uma operação e felizmente está cá para nos contar.
Pode ter perdido algum fulgor na sua voz mas, o seu humor e sua ironia estão de boa saúde. Sente-se disposto a fazer alguma coisa pela cultura em Salvaterra e dar-lhe-ia muita satisfação ajudar a formar um grupo de Teatro no concelho.
Respondendo a um conviva, deu a sua solução para a crise que assola Portugal – o povo português precisa de rir e a comédia devia ser imperativo nacional, disse Carlos Miguel, mais que subsídios ou promessas eleitorais, Portugal devia perder o medo de rir de si próprio.
Os cinzentões que gerem de um modo medíocre os nossos destinos, só tinham a ganhar se dedicassem mais tempo à terapia do espelho – era um fartote de rir, não era, seus maduros ? !