quinta-feira, 8 de outubro de 2009

FANHA, GRANDE, NA CABANA !!




Então não é que este grande Fanha veio com vontade de contar histórias ?
Oh que histórias, daquelas feitas de experiências de voluntariado e de camaradagem.

Foi assim que José Fanha começou a noite, com a história do sujeito que lhe telefonou, pedindo-lhe que fosse a sua casa dar uma vista de olhos a um livro que iria publicar brevemente. Claro que foi, não sem antes se debater com a sua consciência:
- Não sou capaz de dizer que não...! não vou ser capaz de dizer a verdade com pena do individuo...! vou apanhar uma valente seca...!(pensou).
O que lhe esperava foi algo que o surpreendeu. Encontrou um idoso debilitado pela idade, já sem forças para sair de casa, que lhe apresentou um manuscrito com centenas e centenas da charadas. Tratava-se de um coleccionador e criador de charadas de todos os tipos, umas mais interessantes que outras, mas eram charadas, de coisa que vão rareando nos dias que correm. Aquilo que poderia ser uma maçada, revelou-se uma experiência riquíssima para ambos.

Alguém lhe perguntou como ganha ele a sua vidinha, pergunta envenenada, num país que não tem lugar para poetas e dizedores de poesia e que nem sabe para que serve isso. Após um sorriso, Fanha contou que, apesar da sua formação de arquitecto, encontrou na poesia e na sua expressividade uma maneira subtil de interagir com os outros, publicando a sua poesia e a sua prosa e espalhando aos sete ventos a dos outros autores, por sinal amigos seus. Contou que apresentou ao Ministério da Cultura da época, um projecto que consistia em dinamizar as escolas e as bibliotecas de Portugal com a boa nova da palavra, incitando os públicos mais novos para o gosto da leitura. Esse projecto foi-lhe negado, mas ele acabaria por o realizar, aliás continua a realizá-lo a prova disso, foi a sua presença na Cabana dos parodiantes, nesta noite de 24 de Setembro.
Foi na Cãmara de Sintra que encontrou a disponibilidade e a sensibilidade para essa aventura, na qual tem vindo a trabalhar em todo o concelho e se sente realizado.

A questão da memória veio á baila por causa do advento da internet. Segundo José Fanha, a revolução democrática proporcionada pela internet, vem abrir todo um mundo de possibilidades e permitir que toda a gente no planeta possa escrever sobre tudo e mais alguma coisa. Essa abertura permite tambêm que se escreva as maiores barbaridades possíveis e não existe um organismo que faça as devidas rectificações. Apontou o exemplo da wikipédia, cujas informações biográficas sobre pessoas que se distinguiram pela sua excelência, aparecem erradas ou imprecisas.

Que memória estaremos a construir para as gerações vindouras ?. Foi a pergunta que José Fanha deixou ficar no ar.

Houve oportunidade de conhecermos o José Fanha dizedor, aquele que nos encanta com a poesia dita, e que bem que ele a diz.
Escolheu várias poesias para esta noite de Conversas da Cabana, na qual destaco o texto de António Lobo Antunes, sempre irreverente, imortalizado em canção por Vitorino - " Todos Os Homens São Maricas Quando Estão Com Gripe ". Não podia vir mais a propósito, agora que impera a paranoia da Gripe A. A terminar, José Fanha contou-nos a sua divertida história " As gajas são Lixadas ", do livro " Diário Inventado de um Menino Já Crescido ", na qual dou o prazer, a quem se queira demorar mais um pouco, de ler no final desta crónica.

Por falar em memória, O Fanha mesmo, mesmo no fim, perguntou aos presentes:
- para quando um museu dos Parodiantes de Lisboa em Salvaterra de Magos? É que os gajos nasceram em Salvaterra, porra!



As gajas são lixadas

' O meu amigo Helder levou ontem um medíocre da nossa professora e,quando chegou ao recreio põs-me uma mão no ombro e disse-me com cara de quem sabe muito bem do que é que está a falar:
-Sabes o que eu te digo, pá?As gajas são lixadas!
Fiquei-me com aquela.Se o Helder dizia é porque devia ser verdade.Eu é que andava distraído e nunca tinha pensado a fundo nesses assuntos relacionados com gajas.Mas pensando bem, o Helder tinha toda a razão.Verdade,verdadinha:'As fajas são lixadas.'
Bastava lembrar-me da Armandinha que, em vez de me dar os cromos das pastilhas elásticas, preferia deitá-los para o caixote do lixo só para me irritar.E da Célia, a quem pedi namoro e se desatou a rir.E da Joana que todos os dias me dizia que eu tinha cara de sapo engasgado.
O Helder tinha mesmo razão.Quando fui para casa, ia a repetir cá para comigo:'As gajas são lixadas!As gajas são mesmo lixadas!'Olhava para cada mulher que passava por mim na rua e pensava:'Tu és uma gaja lixada.'Vinha outra...'Tu também és uma gaja lixada!'
Cheguei a casa a repetir baixinho-As gajas são lixadas...-Que que vens a dizer, filho?-Perguntou-me a minha avó, e eu nada, nadinha...Pus-me a pensar.A minha avó não era lixada.E a minha mãe também não.Nem a minha madrinha.Muito menos a Rita das trancinhas do 3º esq. que não era mesmo nada lixada.
Mas não havia dúvidas.O Helder tinha toda a razão.As gajas são lixadas.As gajas são mesmo lixadas.O problema é que, entre as mulheres que eu conhecia, não tinha a sorte de conhecer nenhuma gaja.'
In, Diário inventado de um menino já crescido, Gailivro, 2007

FUTURA BIBLIOTECCA DA CABANA


Agora a sério. Mesmo, mesmo, mesmo a terminar a tertúlia na cabana, no passado dia 24de Setembro, José Fanha fez questão de oferecer um livro de poesia, uma antologia da poesia escrita no feminino, á nossa Cabana dos Parodintes, para que seja o primeiro livro da sua futura biblioteca. Bem Hajas! Excelente ideia Fanha!