segunda-feira, 2 de março de 2009

O PADRE MÁRIO DA LIXA FOI POLÉMICO, CONVICTO E ENTUSIASTA






A CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL EUROPEIA É MARCADA PELO JUDEU JESUS DE NAZARÉ?

No passado dia 26 de Fevereiro de 2009 foi este o tema das Conversas na Cabana. A adesão foi extraordinária e a Cabana dos Parodiantes estava repleta.

Do currículo do convidado :

O nosso convidado, o presbítero Mário Pais de Oliveira, nasceu na freguesia de Lourosa (Santa Maria da Feira) em 8 Março 1937. É o último de três filhos, tendo a sua mãe sido jornaleira nos campos e o pai operário numa fábrica de serração de madeiras, anos mais tarde, emigrante em Moçambique.
Em Outubro de 1950: deu entrada no Seminário da Diocese do Porto. Tendo sido em 5/8/62 ordenado padre, na Sé Catedral do Porto.
Em Outubro 1962: começou a ser coadjutor na Paróquia de Santo António das Antas (Porto), mas, antes do primeiro ano terminar, já o respectivo pároco, incomodado com a sua maneira popular e evangelicamente desestabilizadora de exercer o ministério, estava a pedir ao Administrador Apostólico da Diocese a sua remoção.
Em Outubro 1963: iniciou-se como professor de Religião e Moral primeiro no Liceu Alexandre Herculano (Porto) e dois anos depois no Liceu D. Manuel II, Assumiu, ainda, por essa altura funções de assistente diocesano da JEC (Juventude Escolar Católica).
Em Agosto 1967: foi abruptamente interrompido nesta sua missão pastoral pelo Administrador Apostólico da Diocese, por suspeita de estar a dar cobertura a actividades consideradas subversivas dos estudantes (concretamente, por favorecer o movimento associativo, coisa proibida pelo regime político de então).
Foi nomeado capelão militar, sem qualquer consulta prévia, foi obrigado a frequentar, de imediato, durante cinco semanas, um curso intensivo de formação militar, na Academia. Em Novembro 1967 desembarcou na Guiné-Bissau, como alferes capelão mas logo em Março do ano seguinte já regressava à sua Diocese depois de ter sido expulso de capelão militar, por ter ousado pregar, nas Missas, o direito dos povos colonizados à autonomia e independência.
As nomeações e exonerações prosseguiram. Em Outubro de 1969 começou a paroquiar a freguesia de Macieira da Lixa (Felgueiras).
Em Julho 1970: foi preso pela PIDE/DGS, tendo saído de Caxias em Março do ano seguinte, depois de ter sido julgado e absolvido pelo Tribunal Plenário do Porto. Em Março 1973 voltou a ser preso pela PIDE/DGS, tendo saído em liberdade quase 1 ano depois, no termo do 2º julgamento no mesmo Tribunal. Esta nova detenção custou-lhe a paróquia de Macieira da Lixa.
No dia 25 de Abril 1974, em casa dos seus pais, concede a sua primeira entrevista ao Jornal de Notícias.
Em Janeiro 1975 passou a ser jornalista profissional na delegação do Porto, do saudoso vespertino "República".
Em Outubro 1975: ficou sem qualquer ofício pastoral na Igreja do Porto, em consequência de ter sido aceite pelo Bispo da diocese o pedido de demissão dos três párocos (Sé, S. Nicolau e Miragaia) que coordenavam a Equipa Pastoral da Zona Ribeirinha do Porto que o Padre Mário integrava desde Maio do ano anterior.
Actualmente, é director do Jornal FRATERNIZAR, desde a sua fundação, em Janeiro de 1988. Reside actualmente em Macieira da Lixa e subsiste da sua parca reforma de jornalista.

Da mensagem:

O presbítero Mário na sua exposição inicial e na resposta às muitas perguntas que surgiram durante o debate, procurou fazer a destrinça entre um Jesus, histórico, o de Nazaré, e um Jesus, manipulado por escribas e mensageiros, que ao longo dos séculos exacerbaram uma dimensão divina, não raras vezes em detrimento da sua humanidade.
Jesus de Nazaré – e não o de Belém – não faz milagres, afirmou o Padre Mário. Nasceu como todos os homens e mulheres, de uma mãe Maria, hebraica, e de um pai, provavelmente um soldado romano, a força ocupante do território, que a terá (presumivelmente) violado.
Jesus não saiu enquanto jovem de Nazaré, e o presbítero Mário insurge-se com o episódio bíblico que narra a fuga de Jesus e da sua família para o Egipto, avisados por um anjo, permitindo, no entanto, por omissão, que todas as demais crianças da sua idade fossem assassinadas pelo imperador romano. “É uma criação literária”, conclui.
Foi aparentemente a origem humilde de Jesus que o fez aproximar-se dos mais desfavorecidos e com eles compartilhar angústia, dor, sofrimento.
O Deus de Jesus é o SALVADOR. Não é originário de Deus o que causa vítimas humanas. Deus não carece de tantos sacrifícios de animais. “Isso é idolatria” e é dessa prática religiosa que Jesus de Nazaré discorda e contra ela prega.
Na sua caminhada ele afronta o poder instituído (político, económico e religioso), a chama que o alimenta e alumia é a sua espiritualidade e a convicção de que o Homem é capaz de tomar nas suas mãos o seu destino, “bastando” para tal que Acredite nas suas potencialidades e de que pode influir, pela partilha com o outro, a sua vivência colectiva.
Jesus apela ao que de melhor há no interior de cada homem e a que cada um valorize as suas capacidades e as ponha ao serviço do BEM comum.
As Igrejas são estruturas hierarquizadas, de controlo e regulação que não propiciam espaços de reflexão, nem facilitam o desenvolvimento do ser humano enquanto entidade autónoma, dotada de capacidades que importaria potenciar ao invés de os reduzir à necessidade de IDOLATRAR um Deus propalado pelos funcionários das Igrejas, que não O de Jesus de Nazaré.
Polémico, convicto e entusiasta o Padre Mário envolveu-nos durante mais de 3 horas.
Obrigado Padre Mário, foi um privilégio!




Hélder Manuel Esménio ( moderador da tertúlia )