segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Amor meu.

Corpo do Esplendor.
Dádiva inocente.
Terrena rebeldia.

Avril.

Leonel d’Azevedo
Fora da toca

Canil

Arrastados ou aliciados, eles vão sendo conduzidos para o lugar do seu abate. Em troca da promessa vã de uma vida melhor, de um mundo repleto de desejos satisfeitos, eles são feitos prisioneiros pelo sistema que tudo domina. Por si mesmo, inconscientemente, se prendem a ilusões que se propagam e auto-reproduzem. A fome e a necessidade de carinho os leva à sua própria queda.
O sistema é selectivo e quem entra no jogo se não está de acordo com as normas é marginalizado e eliminado.
Muitas vezes pensamos, iludidos, que estamos a conquistar algo de especial, a ter alguma coisa. Mas o problema começa aí: ter. Todas as culturas primitivas tinham disso consciência. Os índios olhavam para os invasores europeus sentindo-se mais ricos que estes: eram livres das insatisfações geradas pelo sistema e que são a matéria do qual este se alimenta.
Mas como em tudo é necessário cair, é necessário ficar iludido, para poder tomar consciência do sistema e, posteriormente, libertar-se dele. A cautela a ter é defendermo-nos da aniquilação que por vezes acontece quando o sistema se vê ameaçado.

Ismael Bento da Cruz