sábado, 10 de setembro de 2011

PAULO DE CARVALHO SENTIU-SE EM CASA NA CABANA!


Já começa a ser recorrente, os convidados das Conversas da Cabana sentirem-se em casa. Não é para menos, a energia positiva que se vive nestas noites proporciona essa familiaridade.

Não foi nada difícil ao Paulo de Carvalho sentir-se em casa e consequentemente proporcionar aos oitenta convivas presentes uma noite memorável.
O amigo Elias, que substiuiu o fundador destas tertúlias e habitual moderador, o jornalista José Peixe, apresentou o convidado sem esconder a sua emoção, ou não fosse ele seu fã incondicional. Uma vez apresentado, o Paulo de Carvalho não mais parou de falar sobre a sua vida preenchida, um percurso notável que dura há 63 anos:

- só vou parar quando cair para o lado, disso lhes garanto !, desabafou, sério, o cantor.

A sua experiência no famoso grupo Sheiks foi a razão porque desistiu duma carreira confortável numa companhia de seguros:

- a minha decisão de desistir de uma carreira confortável e bem renumerada numa companhia de seguros, foi porque realmente eu gostava de cantar e tocar bateria, além de que eu ganhava com o grupo o equivalente a um gestor, desses que ganham balurdios!

Mas foi o rotundo sucesso da canção escrita por José Niza e orquestrada por José Calvário, " E depois do Adeus ", vencedora do Festival RTP de 1974, que catapultou Paulo de Carvalho para estrelato. A canção foi a escolhida para servir de senha nos Emissores Associados de Lisboa, para as tropas avançarem na noite de 24 de Abril. Sendo essa canção muito popular na altura e não tendo conotação política, era ideal para não dar nas vistas por parte do poder:

- não sabia nem imaginava que essa canção iria ter a fama e a força que teve, nem o Niza nem o Calvário...mas o que aconteceu, foi que o Otelo deu ordem lá na rádio para escolherem uma canção de modo a avisar secretamente as tropas...e escolheram a minha...tive sorte! devo ao empurrão que eles me deram , o sucesso da minha carreira!

A sua ligação aos Parodiantes de Lisboa foi focada pelo orador. Quando ele ainda era uma esperança dos juniores do Benfica, foi convidado pelos irmãos Andrade para participar em jogos de futebol, com o equipamento dos Parodiantes. O Paulo frequentava o mítico café Vá-Vá e os humoristas tinham o seu estúdio no terraço desse prédio, na avenida Estados Unidos da América. Eram partidas muito bem humoradas e acabavam sempre com grandes jantaradas bem regadas. Aconteceu que o Paulo levava um pouco estes jogos a sério e de vez em quando irritava-se com a leviendade dos seus colegas jogadores parodiantes, cuja bola era quadrada. Contou ele, que a certa altura conduzia a bola bem segura, numa jogada de antologa em direcção á baliza e deparou com o Zé Andrade debaixo de um guarda sol, mais dois, na pequena área, assando sardinhas, com a maior das descontrações. Mas logo tudo passava...até que era divertido!

Perguntaram ao Paulo como lidava com a criatividade, ao que respondeu que considerava isso um acto de grande solidão. No entanto, confessou, só consegue trabalhar e criar sob pressão, dando~lhe prazos para entregar material novo:

- Tens uma cantiguita praí na gaveta? Qual quê, não tenho ! brincou com a situação de um sujeito que pensava que ele fazia música a metro.
Alguém lá ao fundo da Cabana propôs, se ele não cantava nada. Paulo de Carvalho ironizou:

- Mas porque é que um cantor ou um músico deve cantar ou tocar de cada vez que sai de casa? voçês tambêm pedem a um arquitecto ou engenheiro que façam um desenho? convidaram-me para eu vir falar da minha vida, não foi para cantar!

Na verdade, não passou muito tempo sem que ele cantasse, expontãneamente e com sentimento, uma canção alentejana do grupo Adiafa e que bem que cantou a capela e no fim um negar de palmas:

- não batam palmas...isto é uma conversa!


Outras canções se sucederam. A "Mãe Negra", " Os miudos de Huambo" e o
 inevitável " E depois do adeus", cantadas não, sussurradas, como se não quizesse acordar os vizinhos e que bem que cantou o Paulo de Carvalho, até à 1 hora da madrugada, mas só por que ele propôs, pois nós ficávamos a ouvi-lo até ao dia nascer.