terça-feira, 30 de junho de 2009

CONVERSAS DA CABANA COM MÚSICA ...UMA NOITE QUASE PERFEITA COM OS "PÓST-SCRIPTUM"


Que dizer de uma noite quase perfeita, com boa música e palavras sinceras.
Ricardo Marques, mestre da guitarra portuguesa, professor do Conservatório Nacional de Santarém, provou que o primeiro mestre, Carlos Paredes, ainda está vivo. Os trinados da guitarra de Paredes espalharam-se pelo espaço histórico da Cabana dos Parodiantes.
Pode o som de uma guitarra, convocar no mais íntimo de um povo, a ideia de uma pátria ?
Perguntem a um jovem português, longe do seu país e dos seus (habituado a considerar o fado como música para botas de elástico), porquê, a determinada altura, estremeceu e deu por si a lacrimejar que nem uma criânça ao ouvir o dedilhar da guitarra portuguesa?
O trio Póst-Scriptum composto ainda por Isabel Bogalho(guitarra dedilhada)e Rui Almeida(Contrabaixo, alunos do Conservatório de Lisboa, fez jus ao seu nome, pois trouxe á Cabana aqueles apontamentos que foram omitidos ou esquecidos e que fazem toda a diferença no reportório da guitarra portuguesa.
Duas conhecidas peças de Carlos Paredes, "Verdes Anos" e "Amanhecer", deram início á excelente prestação dos músicos, perpetuando a memória do mestre. Alguém perguntou se ainda se pode tirar alguma coisa de novo desta guitarra tão nossa, ao que o professor Ricardo respondeu que, na época em que vivemos, mais do que nunca, a cultura dos povos é pertença do mundo global e nada está imune á contaminação...nem mesmo a guitarra portuguesa. Na verdade, Ricardo acrescentou que são precisos poucos anos para conhecer e executar todo o reportório existente na pauta, pois existem cerca de 30 composições, mas para isso é necessário dominar o instrumento e isso dura uma década, no mínimo. sobre a aderência dos jovens ao estudo desta guitarra, ela é fraca e existem muitas desistências. Segundo o professor, os aspirantes tendem a desistir ás primeiras dificuldades pois o instrumento requer muita dedicação e disciplina, chocando com os padrões de vida dos adolescentes normais.
Isabel Bogalho, desmistificou a ideia de que os estudantes e os músicos que se dedicam á música erudita, são pessoas introvertidas e anti-sociais. De facto, a natureza dos cursos, pela sua exigência, "rouba" muitas horas de lazer e obriga o jovem a uma vivência interior disciplinada, mas no essêncial, são miúdos iguais como tantos outros.
Na segunda parte da tertúlia, invocou-se Nicoló Paganini e Joe Satriani, com resultados surpreendentes, motivando espanto e identificação da plateia constituida por cerca de sessenta pessoas.
Nesta altura, alguns presentes, esqueceram-se que estavam diante de um recital de música de excelência e comportaram-se como se estivessem num bar ruidoso de fim-de-semana. Realmente, certas pessoas, quando confrontadas com a beleza pura, ficam nervosas e não compreendem essa sensação diferente(tal é a oferta mediocre que lhes é incutida diáriamente). Dá-lhes para parvarem, como diz a actual juventude, e foi o que fizeram. lamentável.



Houve espaço para os Post-Scriptum tocarem duas peças da sua autoria. Interessante notar por um lado as influências dos três músicos e por outro, ansiedade deles em inovarem e trilharem caminhos nunca antes experimentados.
Mais soltos e alegres, Ricardo Marques, Isabel Bogalho e Rui Almeida responderam á provocação que o gerente lançou, improvisando, sem rede, malhas de sons próximos do jazz...que o diga o contrabaixista, que se esqueceu do arco de crina e atacou em pizzicato o seu contrabaixo.
As Conversas da Cabana, na sua 34ª edição, não foram só de conversa mas sim de música, do melhor que se houve por esse mundo global.
Para todos os que não puderam estar presentes nesta fantástica noite, brevemente iremos ter um filme á vossa disposição no vosso blogue "amor e uma cabana".
E que mais querem vocês na vida, um amor e...uma cabana ?!

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